sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

21 de abril: Nove anos da morte de Cortez Pereira


Cortez Pereira em discurso na Câmara Municipal
DO JORNAL DE FATO

Registro que deve ser feito: hoje, 21 de fevereiro, completa nove anos da morte do ex-governador Cortez Pereira. Ele morreu nesta data, em 2004, aos 80 anos de idade, depois de uma prolongada internação em virtude de uma pneumonia.
Filho de Vivaldo Pereira Araújo e Olindina Cortez Pereira e nascido em Currais Novos no dia 17 de outubro de 1924, Cortez Preira foi governador biônico do Rio Grande do Norte de 1971-1975. Antes, em 1962, ele foi eleito primeiro suplente do senador Dinarte Mariz, pela UDN.
Filiado depois à Arena foi escolhido governador pelo presidente militar Emílio Garrastazu Médici em 1970, precedido por Walfredo Gurgel.
Ao final de sua gestão o governo potiguar foi entregue a três membros da família Maia: dois por indicação: Tarcísio e Lavoisier e um por via eleitoral: José Agripino, numa sequência interrompida apenas em 1986, com a eleição do governador Geraldo José de Melo, hoje no PMDB.
Cortez Pereira durante o seu governo implantou o modelo de reforma agrária com 22 vilas da Serra do Mel, que depois foi transformada em município e ele, Cortez, eleito prefeito. Serra do Mel também foi governada por um filho seu, Cortez Júnior.
Cortez Pereira era formado em Filosia e em Direito pela Universidade de Pernambuco. E casado com a professora Aída Ramalho.
NOTA DO BLOG: O autor da matéria comete um equívoco quando diz que Cortez Pereira foi o primeiro prefeito, quando, na verdade, foi seu filho, Cortez Júnior. 

Leia artigo do escritor Honório Medeiros sobre Cortez Pereira:
“Conheci Cortez Pereira pessoalmente quando, Presidente do Centro Acadêmico do curso de Direito, convidei-o para proferir palestra acerca das relações entre marxismo e jusfilosofia em um dos seminários que nós regularmente promovíamos. 

Na ocasião, dentre as críticas ao marxismo por ele esgrimidas estava a do descompasso entre as previsões de Marx quanto ao surgimento da revolução socialista na Inglaterra – único país, naquela época, que cumpria a necessária etapa do aprofundamento das contradições da classe burguesa através da revolução industrial, e o fato de o processo revolucionário ter acontecido na Rússia feudal. Perguntei-lhe se a teoria de Lênin acerca da tensão revolucionária queimar a etapa da ascensão da burguesia não seria correta, ao que ele me redargüiu que a tese carecia de comprovação histórica.
Aída Ramalho e Cortez Pereira (anos 70)


É difícil explicar nosso fascínio juvenil por Cortez Pereira, pois ele era um liberal e havia sido Governador através do Movimento de 64 enquanto nós, no verdor de nossa carreira intelectual, ávidos para salvarmos o Brasil e o mundo, pertencíamos a algum dos matizes da esquerda tupiniquim. Talvez a sombra de sua retórica envolvente, misto de conhecimento técnico e arroubo poético, o eco de sua difícil e romanesca vitória no concurso para professor de Introdução ao Estudo do Direito da Universidade Federal, suas memoráveis defesas de projetos e programas de Governo e, principalmente, sua imolação no altar da ditadura, através de uma cassação hipócrita, tivesse construído essa aura de respeito que lhe tributávamos.

Pouco depois, ainda no tempo em que todos os cursos da Universidade Federal colavam grau juntas e o orados das turmas concluintes era escolhido por concurso, nós o tivemos como paraninfo – salvo engano a primeira homenagem pública pós-cassação. Quando terminou de nos falar pediu ao cerimonial que me trouxesse a sua presença para confirmar se eu, “de fato, pelo que pude perceber do seu discurso, não era mais marxista”. Disse-lhe que estava em fase de transição, ele me abraçou dizendo baixinho: “também eu sonhei seus sonhos”.

Entretanto, o mais emocionante dos momentos que vivi através de Cortez Pereira ocorreu quando assisti seu depoimento em “Memória Viva”. Várias vezes meus olhos se encheram de lágrima – uma delas mais intensamente: ele nos contava, aos seus interlocutores e espectadores, qual o instante mais intenso que vivera no Governo, aquele no qual, no final de uma tarde, pleno pôr-do-sol, arriou a Bandeira do Brasil do seu mastro saudado por quase uma centena de cantadores de viola que tinham vindo até o Palácio Potengi prestar-lhe uma homenagem.

Agora, na maturidade, ainda permaneço fascinado pela concepção estratégica de seu plano de governo e sua capacidade de agregar valores humanos no seu entorno. Tão importante é sua contribuição, nesse aspecto, que ela permanece como referência aos políticos e administradores públicos.

Honro sua memória com essas lembranças quase esmaecidas e o respeito que alguém intelectualmente superior sempre nos suscita, quaisquer que tenham sido seus erros.”

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