sábado, 9 de junho de 2012

A partir deste final de semana, nosso blog reproduzirá a coluna "Cafezinho com César Santos"

INÍCIO EM DOSE DUPLA

A partir deste final de semana, nosso blog reproduzirá a coluna "Cafezinho com César Santos", do jornal de fato, de Mossoró.

E, para fazer diferente, neste primeiro momento, mostraremos as duas últimas entrevistas concedidas:  Crispiniano Neto (no último final de semana) e Renato Fernandes.

Abaixo, a entrevista do poeta e político Crispiniano Neto:

Ninguém mais do que o jornalista e poeta Crispiniano Neto tem a cara do PT de Mossoró. As lutas ao longo de 32 anos de história do partido, se confundem com a própria atuação dele de forma completa e contundente. Por isso, seja ele o mais decepcionado com o processo antidemocrático escolhido pela Executiva Nacional para colocar o PT no palanque da candidata Larissa Rosado, do PSB. 

O petista está decepcionado e não esconde isso. Nessa entrevista, entre um cafezinho e outro, ele conta detalhes do “golpe”, faz duras críticas aos que trabalharam contra o projeto de candidatura própria e aponta a deputada Sandra Rosado como uma das responsáveis. Também se diz decepcionado com o ex-reitor Josivan Barbosa, embora afirme que não guardará mágoas. Essa é a primeira vez que Crispiniano Neto fala sobre o assunto, de forma franca e aberta, sem fugir de suas responsabilidades e de seu jeito de ser. Leia:

 O desgaste parece inquestionável na polêmica que envolveu o PT nos últimos dias. E o sr., defensor incondicional da candidatura própria do PT e do ex-reitor Josivan Barbosa, viu de perto o “golpe” contra o projeto. Como o sr. sai desse  episódio?
Há algum tempo eu tinha feito a opção por ficar fora da política. Estava decidido, mas em 2004 eu voltei com aquela candidatura a prefeito (ele foi a única opção depois de o PT ter sido traído pelo Forum  Avanço Mossoró. Em seguida assumi um cargo na Fundação José Augusto e depois sai decidido que não queria mais cargo público. Então, embarquei nessa disputa da candidatura própria unicamente com desejo de vê o PT de Mossoró oferecer uma opção ao povo. As vezes, as pessoas criticam o eleitor de não saber votar, mas para saber votar é preciso ter as opções. Eu acho que da forma como a candidatura de Josivan se apresentou, seria uma grande alternativa para Mossoró. Mas, lamentavelmente terminou de maneira melancólica, e agora eu volto aos meus projetos pessoais e profissionais. Saio da política com a sensação de ter sofrido uma derrota, mas com a fecilidade de voltar a ter foco nos projetos de literatura que é o que vem me ocupando agora.
Ninguém mais do que o sr. lutou pela candidatura própria e pelo nome de Josivan. Da forma como esse projeto foi retirado, o sr. não sai magoado da política?
Magoado é uma palavra muito ruim. Ela é verdadeira, é forte, mas eu aprendi que mágoas só fazem mal a quem sente, então em procuro deletar a palavra mágoa. Eu saio desse episódio meio sofrido, decepcionado com a política e alguns personagens. Mas prefiro não carregar mágoa de ninguém. Me sinto leve, muito tranquilo, porque a posição que acabou sendo vitoriosa, por caminhos errados, ela já tem muito quem opere, quem execute essa posição, então não precisa de mim. Tranquilamente saio com a consciência do dever cumprido. Aquilo que eu achava que era muito bom não deu certo, nem por isso vou ficar agora gastando minha energia com quem quer que seja e isso que está aí.
Qual o tamanho que o PT sai desse processo?
O PT de Mossoró sai muito aviltado, sai muito pequeno. O processo todo apequenou demais o partido, que sai muito desacreditado. Creio que até o PT nacional sai chamuscado nessa história, porque aquilo que tanto nos orgulhava que fazia o PT ser admirado foi quebrado, que é exatamente a história da democracia interna. Quando nós terminamos aquela votação que a tese da candidatura própria ganhou, a imprensa toda elogiou aquele processo, a cidade inteira reconheceu a democracia do PT, e de repente isso tudo dá para trás. Então, é uma grande decepção. O PT saiu muito pequeno dessa triste história.
Os defensores da candidatura própria, inclusive o ex-reitor Josivan Barbosa, que agora aceitou ser vice da candidata Larissa Rosado, criticaram a interferência da deputada Sandra Rosado no PT. O sr., inclusive, chegou a afirmar que o “golpe” na candidatura própria era uma imposição da deputada. O sr. continua com essa convicção?
Eu tenho a convicção absoluta que tudo isso só aconteceu pela implicância da deputada Sandra Rosado. Primeiro, ela conseguiu cooptar um grupo do PT que era absolutamente contrário a aliança nas eleições de 2008. Esse grupo ficou muito próximo dela agora. Nós que defendemos a aliança naquele ano, preferimos manter a autonomia do PT, uma independência total, deixando muito claro que o PT tinha estado junto em 2008, mas que Sandra era Sandra e o PT era o PT. Só que os interesses se fundiram de uma maneira que vai além da nossa capacidade de analisar.
Crispiniano Neto no "Cafezinho com César Santos" (Foto: Carlos Costa)
Esse apoio de parte do PT colocou a deputada Sandra Rosado dentro do partido, o sr. não acha?
O que houve é que Sandra achou que estava garantida a aliança do PT com o seu PSB, e na verdade não era isso que o nosso partido queria. Eu, diante das decepções que tinha tido com o grupo de Sandra, com o próprio PSB, já era a favor da candidatura própria do PT desde quando o professor Assis lançou o nome dele há mais de um ano. Na época eu disse que o PT deveria discutir a candidatura própria, teria que mostrar a sua cara. Aí apareceu Josivan Barbosa, abrindo a oportunidade do partido  ter uma chapa até competitiva, mas a deputada Sandra ficou com a convicção de que o grupo que estava mais próximo dela, dentro do PT, ganharia no voto a tese de aliança com o PSB. Ela deveria ter os seus motivos que eu não sei quais são, nem tenho como provar. A deputada dizia em todo o canto que iria ganhar as eleições no PT, mas não ganhou. Só que a militância provou que queria a candidatura própria e ganhamos no voto. A partir daí, começou uma articulação, mesmo quando companheiros do PT de Mossoró diziam que respeitariam a decisão, embora fizessem o contrário. Havia aquele entendimento do ex-presidente  Lula e o governador Eduardo Campos (presidente nacional do PSB), e todos sabem que Mossoró entrou de gaiato no navio pela implicância e insistência de Sandra Rosado.
O  sr. acha que a deputada Sandra Rosado tem esse poder todo  para interferir nas decisões internas do PT?
Veja bem. Essa história de que Sandra tem muito poder em Brasília não existe. Na verdade, ela é uma pessoa insistente, e quando quer uma coisa se transforma numa “chata de galocha”. Sandra não deixava ninguém do PT em paz, ministros, lideranças e os lideres do seu partido como Eduardo Campos e Roberto Amaral, até conseguir essa imposição. Foi  uma perda muito grande para PT, mas também acho que  não foi um grande ganho para ela. Andei nas ruas de Mossoró nos últimos dias, e as pessoas estão dizendo que iriam votar em Josivan e que agora não irão votar na chapa da filha de Sandra, porque queriam votar em algo diferente.
O sr. passou os últimos meses ao lado do ex-reitor Josivan Barbosa, na luta pela candidatura própria. Agora, ele mudou de lado e de pensamento. Essa postura do ex-reitor causou surpresa?
Claro, né. Por mais que Josivan não seja do ramo da política, a gente vê que se é isso mesmo que está a vista, ele aprendeu muito rápido o lado negativo da política. Esse negócio de mudar de posição não é salutar. E o mais grave, ele mudou sem ouvir a gente que estava ao seu lado. Eu passei onze meses junto com Josivan, por acreditar que ele teria um futuro no PT e era um bom nome para Mossoró. Dizia muito: não devo nenhum favor a ele. Quando sai do cargo que tinha na Ufersa (na época Esam) para ser candidato a prefeito em 2004, ele me disse que eu teria dificuldade para voltar porque tinha limites de assessores que não eram do quadro. Aceitei tranquilamente e não voltei mais depois da candidatura desastrosa que eu fui para dá palanque ao PT. Fiquei desempregado, mas não guardei mágoas. Portanto, não devo favores a Josivan. Defendi o projeto político de candidatura própria não por Josivam ou por mim, mas sim para o PT, porque era o melhor para o partido. O fato é que ele (Josivan) deu uma demonstração de confiança pra gente em várias atitudes, inclusive, afirmando que não aceitaria ser vice de Larissa. Agora, muda, sob a justificativa que é uma proposta nova oferecida, quando na verdade não é. Isso que Sandra está oferecendo agora, a vaga de vice e a participação do partido na campanha e na elaboração do plano de governo, foi apresentada há quatro anos. Mas isso tudo é uma mentira.
A informação que se tem é que foi oferecido mais. A estrutura para o PT eleger um vereador e o apoio ao nome de Josivan para deputado estadual em 2014. O sr. foi consultado sobre isso?
Não estou sabendo sobre isso. Não sei dos bastidores desse acordo. Estou completamente fora do processo, nem quero participar. Mas tenho certeza que tudo que está sendo prometido, não será cumprido. Essa história de eleger um vereador do PT, do PT participar do programa de governo, de Larissa, se vencer, governar a quatro mãos com o vice, não acredito que isso seja respeitado. Temos exemplo na campanha de 2008. Quando o nome de Larissa crescia nas pesquisas, a deputada Sandra Rosado dizia: “Esses bestas do PT estão pensando que se Larissa ganhar eles vão mandar em alguma coisa. Eles não chegam a posse juntos.” Isso ficou comprovado, porque nos quatro seguintes  não fizemos nada juntos, não tivemos nenhuma ação comum de aliados aqui em Mossoró. Então, Josivan tinha conhecimento disso e dizia com muita firmeza que não queria nem aceitaria ser vice de Larissa, e de uma hora para outra ele aceita e ainda fica com uma história que não está definido quando todo sabe que ele já se definiu há muito tempo.
Mas, Crispiniano, o PT está reunido nesse momento (às 10h de sábado, 2) para definir o nome)…
Isso é uma tremenda balela, porque se a deputada Fátima Bezerra já tirou o nome da professora Socorro Batista, não tem mais discussão. Esse negócio de dizer que o professor Assis está disputando a indicação de vice com Josivan, é igual aquela história que diz: “vamos colocar o bode na sala e depois tirar o bode para a sala ficar folgada.”
Obs: minutos depois chega a informação que o nome de Josivan foi aprovado pelo Diretório Municipal para ser o vice de Larissa Rosado.
O sr. já anunciou que está deixando o Diretório Municipal do PT. Como passa a ser a sua militância no partido e na política?
Serei apenas um filiado, dos mais humildes, dos mais distantes da direção do partido, e sem fazer política. Vou continuar votando, porque não é  justo jogar na lata do lixo 32 anos de filiação, de construção e de dedicação. Além do mais, não me identifico com outros partidos que tem aí. Como eu sou um animal político, não vou me desfiliar para começar um assédio de partido A ou partido B, e nem para provocar uma discussão que nem me ajuda e nem ajuda o PT no momento: por que Crispiniano se desfilou?  Então, isso não iria contribuir para o rumo que o PT tomou, muito menos  para o caminho de vida que eu seguirei. A minha única disposição, por enquanto, é votar em Tércio Pereira para vereador, sem me envolver em campanha.
Crispiniano Neto tem uma história de luta de 32 anos dentro do PT (Foto: Carlos Costa)
O sr. pregou o voto “camarão”, aquele que arranca a cabeça e só vota na cintura, ou seja, sem candidato a prefeito. Está convicto da decisão?
Eu vou votar camarão. Agora, eu não vou fazer campanha do voto camarão. Não vou deixar as minhas obrigações, as atividades profissionais e pessoais, para fazer isso. Vou ficar distante da campanha eleitoral. Não me interessa. Agora, vejo muitas pessoas, também decepcionadas, não querem votar nem camarão. Querem  votar contra essa chapa. Aí, eu não estimulo isso. Não vou  votar contra nem a favor. Não votarei no DEM, com todo respeito as pessoas que fazem o DEM, mas também não vou alimentar o PSB.
O sr. tem pelo menos três grandes decepções em sua vida política e de militância no PT: 1 – a traição do Forum Avança Mossoró ao PT em 2004; 2 – a mudança de comportamento do ex-reitor Josivan; 3 – a interferência do ex-presidente Lula que culminou no golpe da candidatura própria. Qual desse episódios decepcionou mais?
A decisão da Executiva Nacional de derrubar a candidatura própria marcou mais, porque não cumpriu uma banda da lógica desse processo. Quando Paulo Frateschi (coordenador da Executiva Nacional do PT) abriu a reunião com a gente em Natal, disse que o partido tinha uma estratégia nacional, mas que a nacional iria respeitar as questões locais. Ao final da reunião, afirmou que estava convencido que nós tínhamos razão, que via uma incompatibilidade muito grande para se fazer aliança com PSB de Sandra, porém, alertou dizendo que se Lula mandar e a presidente Dilma mandar (derrubar a candidatura própria) ele faria. Então veio a decisão e veio de uma maneira muito desagradável, porque até a última hora a gente estava acreditando que era possível respeitar a questão local. Isso me decepcionou muito, principalmente com o grupo que eu faço parte. Eu entendo a situação de quem tem que engolir isso, como é o caso do companheiro Tércio. Ele me disse que entende a minha posição, que é a posição correta, mas que não pode acompanhar. Eu disse, tudo bem, mas também não posso acompanhar a sua, respondi.  A amizade é a mesma, mas fica uma decepção muito grande. Não é esse o PT que eu construi.  Construímos um partido socialista, um partido de esquerda, que não tivesse o viés stalinista. Invés da centralidade democrática, que era aquilo que vinha de cima e todo mundo acatava, durante 32 anos acreditei que era diferente, e agora vejo que não é. Se algum dia voltar a me interessar pela prática da política, vou sabendo que não é do jeito que me ensinaram e do jeito que eu ensinei a muita gente. Nem por isso, vou tocar fogo nas vestes, nem tocar fogo no navio.
Mossoró vai para mais uma disputa dos grupos Rosado X Rosado. O eleitor ficou sem outra opção. A cidade não tem formação política para viabilizar uma segunda via?
Eu escrevo isso há muito tempo.  Vocês conhecem a minha tese de que essa divisão é para somar. Não é nenhuma novidade na política, nem foi uma invenção dos Rosados. Os Montenegros fizeram isso em Assu três décadas antes. Teve Carvalho Neto e o pai, saiu um candidato contra o outro em Antônio Martins, cuja eleição foi decidida por  um voto de maioria. Isso é uma velha tática de dividir para reinar. Agora, o que tem acontecido em Mossoró é que as forças que não são rosadistas, elas foram sendo abocanhadas por um lado ou pelo outro. Por exemplo: depois da campanha de 1982, aquelas pessoas que apoiaram João Batista Xavier contra Dix-huit Rosado tivessem se unido ao PT nas eleições seguintes, em 1988, nós teríamos apresentado a Mossoró uma chapa altamente competitiva. Só que isso não ocorreu. Os Rosados lançaram Laíre e Rosalba (hoje governadora – casada com o ex-deputado Carlos Augusto Rosado)  e tiveram 92% dos votos . O nosso candidato Chagas Silva apenas 2,88%. O grupo que apoiou João Batista já estava com Rosalba, que ganhou as eleições pelo PDT de Brizola. Todas as tentativas de nos unirmos pela esquerda não foram possíveis, porque sempre nos rendemos. Desse  jeito nós nunca vamos derrotar os Rosados. Então a estratégia deles é quase perfeita, porque funciona muito bem.

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