O advogado
Erick Pereira, doutor em Direito Constitucional e professor
universitário em Natal e Brasília, falou à Rádio Nacional sobre a Reforma Eleitoral em discussão em Brasília.
Eis a entrevista:
Rádio Nacional – O que vem a ser uma reforma política?
Erick Pereira - O tema
Reforma Política vem desde o governo João Goulart. A cada proximidade de
eleição você tem esse tema voltando a debate, e ao longo desses anos
você apenas consegue ver propostas. O que seriam essas propostas?
Reforma Política não é essas mini-reformas que são feitas, a Reforma
significa mudanças estruturantes, mudanças em que fortaleça a federação,
fortaleça o conceito de mandato eletivo, traga os direitos políticos
para um debate, se o voto é facultativo ou obrigatório, então a Reforma
ela abrange, não só aspectos políticos, aspectos de Estado, assim como
aspectos de cidadania, que é o ponto principal e o foco maior de
qualquer reforma, assim como também o viés partidário que é a reforma
partidária.
Rádio Nacional – Numa reforma
política cabe também discutir o tempo de mandato do chefe do Executivo,
tanto a nível federal, estadual, municipal, como também o sistema de
governo?
Erick Pereira - Também.
Quando é uma reforma efetivamente estruturante, que discute os
alicerces, tanto da forma de governo como forma de estado, como
exercício de cidadania, você pode discutir não só o tempo de mandato
eletivo, como a forma dessa eleição, que hoje nós vivemos com uma
eleição que é majoritária, é uma eleição que o cidadão brasileiro vota
diretamente naquele candidato, acima de 200 mil habitantes poderá ou não
ter segundo turno, e você tem a forma proporcional, que seria a eleição
em que você daria mais fortalecimento aos partidos políticos. Então
você tem essas duas modalidades em que se debate se será lista fechada,
lista aberta, se será o distritão, como estão usando agora essa
terminologia, o pessoal do PMDB está muito forte nesse tema, e aí você
tem um esclarecimento maior no sentido de aproximar o cidadão do seu
representante, evitando essa crise de representatividades que nós
estamos vendo hoje com o tal do coeficiente eleitoral. Às vezes você
vota num candidato e termina elegendo um terceiro, sem que você nem
saiba que seu voto serviu para eleger um terceiro candidato. Então essa
distorção também será um dos pontos do debate dessa reforma política.
Rádio Nacional – O assunto
reforma política não é de hoje né? Tem quase duas décadas que se fala em
reforma estruturante. Até se falou em constituinte, em plebiscito. O
nosso Congresso está pronto para partir para esse debate?
Erick Pereira - Sempre
que há um momento de crise na República brasileira, você tem esse termo
reforma política surgindo como se fosse a salvação de todas as crises.
Nós não podemos é trabalhar com esse viés de reformismo. Tudo no Brasil
tem um viés de reforma porque é a reforma que vai solucionar os
problemas. A questão da constituinte exclusiva que tanto se fala, não há
necessidade se houver realmente interesse e vontade política dos
mandatários da atual legislatura em modificar esse sistema eleitoral,
sistema político e sistema partidário que nós estamos vivendo. Havendo
essa vontade, onde você afasta esse sentido de pessoalizar os seus
interesses ou regionalizar os seus interesses, o grande problema das
reformas no Brasil são as questões regionais onde cada Estado tem seu
problema, e aí você não pensa de forma macro e com isso não chega a
consenso. Havendo esse consenso, aí sim, você terá essa reforma política
sem precisar de uma constituinte exclusiva. O outro ponto, o
plebiscito, eu acho que é melhor para o cidadão brasileiro não ir por
essa via, eu acho que o referendo seria o caminho mais forte, ou seja,
eles vão debater e essa discussão quando aprovada vai ser submetida à
população brasileira. Porque não adianta você fazer um plebiscito,
antecipar uma consulta ao cidadão brasileiro, se ele sequer discutiu. O
importante para a reforma política é a participação do cidadão
brasileiro. Se não houver instrumento de pressão da opinião pública nós
não teremos reforma.
Rádio Nacional – Em um ano é possível ter essa matéria discutida, votada e aprovada?
Erick Pereira - Você
sabe que no Brasil quando há, realmente, interesse, às vezes não precisa
nem de um ano. É uma PEC, ela tem uma votação diferenciada, tem dois
turnos, três quintos de deputados e senadores votando, então a PEC tem
uma tramitação especial já que é uma emenda à Constituição. Mas se ela
não for votada até outubro deste ano não terá efeito para 2016. Por
exemplo, um dos temas que se fala é a coincidência das eleições, onde a
de 2016 teria um mandato de dois anos para que todos participassem da
eleição de 2018 numa eleição unificada. Precisa de muita ação, muita
vontade e diminuir a retórica com relação a essa terminologia reforma
política.
Rádio Nacional – E o Brasil precisa de uma reforma política, professor?
Erick Pereira - Hoje se
nós vimos as democracias no mundo, mesmo os países vizinhos como
Argentina, os Estados Unidos, você vai ver que nós precisamos de um
amadurecimento, não é copiar, como se copiou a reeleição. O Brasil tem
as suas peculiaridades, precisa ter o seu sistema próprio, e não,
simplesmente copiar os sistemas estrangeiros. Ele precisa ter uma
reformulação de pontos em que se sente essa necessidade como
representatividade. Será que as coligações proporcionais são a melhor
forma? Há ou não necessidade de uma cláusula de barreiras? Precisamos
diminuir essa quantidade de partidos que hoje nós temos? Hoje temos
multiplicidade de partidos e nós precisamos ter pluralidade de partidos.
Não é quantidade, mas sim, qualidade. Então é importante o debate com
nossas peculiaridades, e não com cópias de modelos estrangeiros.
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