quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A extinção das Abelhas pode ocasionar a extinção da Humanidade


O FIM?

O declínio da população de abelhas no mundo preocupa cientistas e acende alerta. Insetos são um dos principais agentes polinizadores mundiais e sua extinção pode levar ao fim da vida no planeta.
Mel e ferroadas – caracterizados por sabor e dor – são a marca registrada das abelhas para a imensa maioria das pessoas. Porém é a mais importante função desses insetos na natureza é a sua grande capacidade polinizadora. Dela depende a sobrevivência de muitas espécies, humanos incluídos. "Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, a espécie humana teria somente mais quatro anos de vida. Sem abelhas não há polinização, ou seja: sem plantas, sem animais, sem homens". Tal afirmativa, creditada ao físico alemão Albert Einstein, ilustra bem o papel vital exercido por esses insetos na roda-viva da Terra.

Nesse contexto, o cenário atual não é de tranquilidade. Isso desde que, em 2011, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) emitiu um alerta sobre as consequências que o sumiço das abelhas pode causar, inclusive pela falta de polinização em grandes culturas. O desaparecimento de colônias de abelhas, antes limitado à Europa (onde o fenômeno começou a ser notado no fim da década de 1960) e América do Norte, ultimamente está sendo observado também na África (Egito) e na Ásia (China e Japão).

Pesquisadores da Universidade de Cornell, dos Estados Unidos, estimam que um terço dos alimentos que consumimos são diretamente dependentes do papel das abelhas na natureza e que elas são responsáveis pela polinização de 80% dos cultivos existentes. As monoculturas, a intensificação do uso de Agrotóxicos e as Queimadas são prováveis causas da diminuição acelerada desses insetos. A domesticação das abelhas para a produção de mel também é citada, visto que as descendentes não conseguiriam mais sobreviver na natureza. A recente guerra no Iraque, com uso de explosivos em larga escala, causou a diminuição de 90% das colônias naquele país.

Amazônia
Diante desse quadro, que aponta os insetos como vitais para a manutenção da Biodiversidade, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Márcio Oliveira, em parceria com o pesquisador J. Christopher Brown, da Universidade do Kansas (EUA), realizou uma pesquisa que relaciona a colonização agrária e o Desmatamento associado em Rondônia com o desaparecimento das abelhas.

Intitulado “The impact of agricultural colonization and deforestation on stingless bee (Apidae meliponini)composition and richness in Rondônia, Brazil”, o artigo, em que constam os estudos dos pesquisadores em Rondônia foi publicado em outubro na revista Apidologie, uma das mais importantes do mundo sobre abelhas. A revista francesa é ligada ao Instituto Nacional de Pesquisas da França (Inra). O trabalho mostra que os pesquisadores visitaram 187 locais do estado em um ano e, por meio de monitoramento por imagens de satélites, foram identificadas as áreas mais desmatadas de Rondônia. E depois foi feita a relação com o desaparecimento de espécies nessas regiões.

“Com o incentivo da ocupação das terras de Rondônia nos anos 1980, o crescimento foi acelerado e as populações começaram a desmatar para exercerem atividades agrícolas. Nas primeiras áreas que foram ocupadas, nota-se um número menor de espécies de abelhas do que nas ocupadas por último. Já nas áreas de colonização próximas a reservas indígenas e unidades de conservação é onde se encontra um número maior de espécies, o que demonstra a importância dessas áreas", explica o pesquisador Màrcio Oliveira.

Questionado sobre a existência de outras áreas do Brasil com o mesmo problema, ele diz que ainda não foram realizadas pesquisas desse nível fora de Rondônia. "Mas a escala do Desmatamento da floresta, principalmente no Pará, Maranhão e Mato Grosso, é preocupante e pode, sim, levar a um cenário semelhante ao de Rondônia. Este, por sua vez, é um caso único, pois lá houve assentamentos agrários oficiais, os quais removeram a cobertura florestal para dar lugar à produção agropecuária. Ou seja, pensou-se na produção agrícola, mas não nas abelhas que auxiliam, e muito, nessa mesma produção", afirma.

Para reverter em parte essa situação, ele recomenda deixar grande parte das áreas desmatadas e hoje abandonadas para se regenerarem, sob proteção oficial, assim como se faz nas áreas de preservação. "As abelhas sempre foram consideradas um dos organismos mais importantes da natureza. Estima-se que sejam responsáveis, por meio da polinização, pela produção de frutos em cerca de 800 alimentos consumidos pelo homem. Ou seja, seu desaparecimento ou diminuição poderá afetar a produção de algodão, de café, de laranja e muitos outros frutos e grãos consumidos pelo homem", ressalta.

MELHORAMENTO GENÉTICO
Baseado em Manaus, Oliveira é curador da coleção de invertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com experiência na área de zoologia, com ênfase em taxonomia, biogeografia, ecologia e conservação de abelhas. Formado em ciências biológicas, com um doutorado e um pós-doutorado nos Estados Unidos, Márcio olha em retrospectiva para dizer que em grandes plantações as abelhas mais eficazes na polinização são as africanas, trazidas para o Brasil na década de 1950 com vistas ao melhoramento genético das europeias, introduzidas por imigrantes europeus a partir do final do século 19.

"Se pensarmos nas fruteiras nativas e na vegetação natural, as abelhas nativas é que passam a ser eficazes. A polinização é um dos fenômenos mais importantes que existem, pois é por meio dele que o pólen (elemento reprodutivo masculino) é levado ao encontro da oosfera (elemento reprodutivo feminino), formando a partir daí a semente e seu fruto. O vento, a chuva e os pássaros também fazem isso, mas ninguém faz melhor que os insetos, com destaque para as abelhas, consideradas um dos organismos mais importantes da natureza", avalia.

O pesquisador acrescenta que os alertas emitidos pela FAO visam à preservação das abelhas. "Entre as diretrizes recomendadas pelo órgão da ONU estão um melhor conhecimento dos polinizadores e das plantas que eles polinizam e a proteção das áreas onde eles ocorrem."
 

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