quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

"Negão da Serra" é condenado a 101 anos de prisão

'Negão da Serra" chegando para a Sessão do Júri
CHACINA

Após cinco horas de julgamento, Francisco Sales Fernandes, "Negão da Serra", 46 anos, recebeu mais uma punição à vida de crimes que levava com a quadrilha liderada pelo assaltante José Valdetário Benevides Carneiro, morto em operação da Polícia potiguar em 2003. 

Negão da Serra foi condenado a 101 anos de prisão por participação na chacina que vitimou em 2001 o então prefeito de Caraúbas, Aguinaldo Pereira da Silva, sua mulher Antônia Gurgel da Nóbrega Pereira, "Nieta", dois policiais e um caseiro. A punição pela chacina veio só 10 anos depois.

O embate entre a defesa, representada pelo defensor público Serjano Torquato, e o Ministério Público Estadual, sob a responsabilidade do promotor Armando Lúcio Ribeiro, começou por volta das 9h30. As discussões se estenderam até por volta das 14h30, quando os jurados decidiram pela condenação do réu nas cinco mortes. Negão da Serra foi condenado a 21 anos pela morte de Aguinaldo; 20 pelas mortes de "Nieta", Ronaldo Rafael da Silva, Cláudio Pereira do Nascimento e Everlânio da Silva, totalizando 101 anos.
Durante a Sessão do Júri

O advogado Serjano Torquato defendeu a tese de que Negão da Serra era inocente das acusações, apesar de ele ter sido preso durante a investigação e ter confessado o crime. Durante o seu depoimento na plenária do júri, o réu voltou atrás da versão que deu durante a investigação policial e afirmou que havia confessado sua participação no crime mediante tortura. Armando Lúcio defendeu sua participação, apontando-o como um dos responsáveis diretos pela chacina - foram quatro executores e um mentor intelectual. Os jurados não concordaram com a defesa e condenaram o réu.

Após o resultado do julgamento, Negão da Serra foi levado novamente para ao Presídio Aníbal Bruno, em Recife (PE), por uma equipe composta por agentes penitenciários estaduais e policiais militares, todos do Rio Grande do Norte. Devido ao grau de periculosidade que apresentava o réu, bem como os integrantes da quadrilha à qual ele pertencia, um forte esquema de segurança foi montado para a sua escolta, como também no Fórum de Mossoró. Policiais militares foram distribuídos nas partes interna e externa do prédio para garantir a segurança dos envolvidos e evitar problemas.

A pena foi de 31 anos, mas, conforme a legislação brasileira, ele só pode cumprir, no máximo, 30 anos de reclusão. O criminoso está preso em Recife há cerca de 10 anos. Ele foi preso em uma praia de Natal, logo após a chacina que vitimou o então prefeito de Caraúbas, foi posto em liberdade e depois preso novamente no Estado de Pernambuco pela prática de assaltos, crimes que são atribuídos a ele e outros antigos integrantes da quadrilha liderada por Valdetário Carneiro, que inclusive foi apontado como mentor intelectual da morte de Aguinaldo Pereira e de outras pessoas ligadas à vítima.

Promotor Armando Lúcio
MP ‘ganha’ 40 anos a mais na condenação
A expectativa do Ministério Público Estadual era que Negão da Serra fosse condenado a aproximadamente 60 anos de prisão, contabilizando a pena imputada pelas cinco mortes. Porém, o resultado foi diferente. Negão foi condenado a 101 anos, 41 a mais do que estimou o promotor Armando Lúcio.
 
A estimativa foi dada ao DE FATO um dia antes do julgamento. "Nós esperamos que a pena seja de 60 anos ou até mais... Mais de uma pessoa foi assassinada e esse é o primeiro agravante. Tem ainda a questão de o crime ter sido cometido por uma quadrilha, com uso de emboscada... Essas são as situações que pesam mais contra o réu e por isso acredito numa pena maior, principalmente pela quantidade de pessoas mortas (foram cinco assassinatos)", adiantou Armando Lúcio, em matéria divulgada nesta quarta-feira, 30.
 
O crime aconteceu na noite do dia 7 de novembro de 2001, quando o então prefeito Aguinaldo Pereira, sua esposa Nieta Gurgel, dois policiais que faziam sua segurança e um caseiro saíram de Caraúbas. Eles foram atacados por um grupo fortemente armado próximo à entrada de Mossoró. A quadrilha atirou logo no motorista, que perdeu o controle e saiu da pista, fazendo o carro capotar.
 
Após o acidente, todos os integrantes, um a um, foram executados com tiros à queima-roupa. De acordo com os laudos periciais feitos pelo Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP) de Mossoró na época, apenas Nieta não foi alvejada. Ela morreu pelo acidente.
 
A chacina que vitimou o então prefeito de Caraúbas e mais cinco pessoas era fruto da rixa entre as famílias Benevides (de Aguinaldo) e Carneiro (de Valdetário). Dezenas de pessoas foram mortas ao longo dos anos 90, que é considerado pela Polícia como o auge da guerra. Algumas mortes ainda ocorreram na década seguinte.
Juiz Vagnus Kelly de Medeiros
 
Em 1999, a quadrilha liderada por Valdetário Carneiro já havia matado o médico João Pereira, irmão do prefeito Aguinaldo Pereira;
 
Em abril de 2006, outro irmão de Aguinaldo, Elinaldo Simeão, foi executado. A mulher de Valdetário, Aguinalda Fernandes Benevides, "Neta", foi condenada pela autoria intelectual da morte de Elinaldo.
 
Hoje, os principais integrantes daquela quadrilha estão presos ou mortos. Alguns criminosos, apontados como de menor escalão na época, ainda continuam atuando no crime. 

Fonte: Jornal de Fato

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