Nunca antes na história desta eleição o tucano Aécio Neves tinha se
saído tão bem num debate, e a petista Dilma Rousseff, tão mal. Ele é,
nem petista pode negar, um debatedor mais competente do que ela, mas a
desproporção jamais havia sido tão gritante. No encontro da Globo, Aécio
foi melhor do que a média de Aécio, e Dilma, pior do que a média de
Dilma. A presidente-candidata estava com o raciocínio confuso, mais do
que de hábito, o discurso lhe saía truncado, as ideias, aos borbotões,
sem um eixo organizador. Se é assim que ela pensa no dia a dia da
administração, muita coisa se explica.
Dilma, a rigor, levou um direto no queixo logo no primeiro embate,
ficou atordoada e não conseguiu mais se recuperar. O tucano abordou a
reportagem publicada por VEJA, segundo a qual o doleiro Alberto Yussef
confessou à Polícia Federal e ao Ministério Público que ela e Lula
sabiam das lambanças ocorridas na Petrobras. O candidato do PSDB disse
que daria a Dilma a chance de se explicar e perguntou: “A senhora
sabia?” Dilma resolveu atacar a revista VEJA e anunciou que tomará
decisões na Justiça. Na réplica, Aécio lamentou a resposta, criticou a
sordidez dos ataques de que foi vítima e indagou se a adversária se
orgulhava da campanha que fez. Dilma não respondeu; tartamudeou. O
massacre se anunciava. Não vai aqui, acreditem, torcida ou juízo ditado
por afinidades eletivas. Revejam o confronto. Dilma não conseguiu vencer
um único embate.
Sobre a “questão VEJA”, uma nota rápida: neste sábado, outros grandes
veículos de comunicação fazem relatos parecidos, alguns até com
detalhes novos. A exemplo do que faz a revista, atribuem as informações a
Alberto Youssef, fornecidas no curso da delação premiada. Dilma
pretende processar todos eles ou tem especial predileção por VEJA?
Notem: acho que os petistas podem destacar aspectos virtuosos de sua
gestão ao longo de 12 anos. Não estão no terceiro mandato, com chances
reais de conquistar o quarto, porque só cometam equívocos. Por que,
então, precisam apelar com tanta determinação ao que não aconteceu,
atribuindo aos adversários o que não fizeram? Resposta: porque esse é e
sempre foi o jogo de Lula; o jeito que ele tem de fazer política.
Dilma disse que FHC deixou como herança uma inflação maior do que a
que herdou — é falso! Que o governo (de novo!) tucano proibiu a
construção de escolas técnicas. É falso. Atribuiu ao PSDB a
responsabilidade por Minas ser a segunda unidade da Federação mais
endividada do país. É falso. A dívida é a segunda, mas a gestão do
partido, que pegou o Estado quebrado, reduziu o endividamento em 37%. A
presidente-candidata disse ainda que os tucanos não têm apreço pelo
salário mínimo. É falso. Nas gestões FHC, o aumento real passou de 85%.
Segundo Dilma, seus adversários são contra o Enem. Ocorre que ele foi
criado na gestão Paulo Renato — ministro de Educação de FHC. A petista
voltou a chamar as ETECs de São Paulo, nas quais se inspira o Pronatec,
de escolas experimentais. Falso! São 217 escolas, com 221 mil alunos.
Dilma levou algumas invertidas inesperadas porque o adversário já
conhecia a resposta e tinha planejado o contra-ataque. Aécio perguntou
se ela continuava a achar José Dirceu um herói ou se considerava justa a
punição que lhe foi aplicada. A presidente-candidata fez o que dela se
esperava: devolveu com o que chama de “mensalão mineiro”. Coube ao
tucano o arremate: um dos coordenadores da campanha da petista em Minas é
Walfrido dos Mares Guia, peça-chave do que ela chama mensalão mineiro.
Então Dilma acredita que esse tal crime aconteceu, mas chama seu
principal organizador para a coordenação de sua candidatura em Minas?
O momento emblemático se deu no confronto sobre a corrupção. Um dos
indecisos quis saber o que era preciso fazer para combatê-la. Cada
candidato elencou as suas medidas e coisa e tal, mas Aécio partiu para a
política: a mais eficaz das medidas, disse ele, é mesmo tirar o PT do
poder.
Dilma perdeu feio até quando parecia que poderia ganhar. Quando se
debate a questão das aposentadorias, Aécio afirmou que pretende criar um
meio de acabar com o fator previdenciário. Mais uma vez, convidou Dilma
para o corpo a corpo, e ela foi, afoita: afirmou que o dito-cujo foi
criado no governo FHC. É verdade. E Aécio concordou. Só que ele lembrou
que o Congresso aprovou o fim do fator, mas que Lula vetou. Xeque-mate.
Quantos votos o bom desempenho num debate muda ou conquista? Ninguém
sabe. O fato é que Aécio está no segundo turno, contra a previsão de
todos os institutos de pesquisa. E foi, sem dúvida, o melhor debatedor
da jornada. Venceu o embate. Vamos ver agora o que acontece nas urnas.
Para encerrar: o debate da Globo teve quase audiência de novela: 30
pontos. Foi um banquete para os indecisos.
Caso os principais institutos de pesquisa voltem a cometer erros
gritantes, já dispõem de uma boa desculpa: foi o debate da Globo que
mudou tudo!
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